domingo, 1 de maio de 2011

Conscientização

CONSCIENTIZAÇÃO
J. Roberto S. Ribeiro (Sociólogo)

A consciência é muito importante na vida das pessoas. Uma pessoa lúcida, consciente, não se deixa enganar. Pode até ser prejudicada, maltratada, mas fisicamente, nunca na sua consciência. Quando fez a Revolução Cubana, em 1959, Fidel Castro disse: “Os capitalistas podem até invadir nosso país, acabar conosco fisicamente, mas o povo não será enganado, maltratado psicologicamente.”(Moraes, 1980). Marx (1981), em seus estudos disse: “O que determina a consciência do indivíduo, o seu modo de pensar, são as suas condições materiais de existência”. Isso não quer dizer que a pessoa seja consciente, lúcida do ponto de vista de sua realidade, nada disso. Pelo contrário, conforme Freire (1978) a massa em sua maior parte pensa de forma com a sua existência, mas age como se fosse rica, como se fora capitalista. E é por isso que se prejudica. O que prejudica o homem não é o seu modo de pensar, pois ele pensa bem, conforme a sua existência. No entanto, o que o prejudica é a sua ação. Quer um exemplo? O voto. A pessoa vive na favela, com fome, sofrendo. Um mundo de miséria. E ela sabe disso. No entanto, quando chegam as eleições, ela não vota no trabalhador que lhe pede o voto, mas no almofadinha de paletó, rico e perfumado. Aí é que está a alienação do homem. Para ele, o pobre da favela, um pobre igual a ele não poderia governar, pois teria a sua mesma incompetência. Outra alienação, achar-se incompetente, inferior, subalterno. Certa vez, uma pessoa do povo, sofrido, disse: “Nós aqui somos todos burros, não sabemos de nada, mas o doutor ali, esse sim, sabe de tudo”. São atitudes desse tipo que faz o alienado, o inverso do conscientizado. A dicotomia conscientização x alienação caminham juntas no mundo da luta pela sobrevivência.
Adquirir consciência, ciência de sua realidade. Com consciência ou mesmo com ciência. Com+ciência = consciência. Daí a palavra conscientização. E esta só pode ser adquirida com o apoio da ciência. Ninguém consegue chegar a um nível de consciência sem ter um mínimo de leitura de uma realidade a qual vive. Tem que investigar. Muitas vezes quando se vê uma realidade, ela só pode ser entendida se tiver tido antes uma leitura sobre aquilo. A esse respeito, Marx (1992) diz: “Se a aparência da coisa coincidisse com o seu conteúdo interior, toda ciência seria supérflua”. Diz a lenda que foi o educador Paulo Freire quem primeiro usou a palavra conscientização. Freire via na educação uma forma de conscientizar o indivíduo. Não que a educação pudesse fazer uma revolução, nada disso, mas ela conscientiza, torna a pessoa consciente de sua realidade. Ela fica sabendo que é explorada. E mesmo que permaneça na mesma situação, ou mesmo pior, ela tem ciência, consciência de sua realidade.
O socialismo caiu na Rússia, mas o povo hoje é muito diferente daquele de antes de 1917. Havia um mundo de analfabetos. Depois que fizeram a revolução, o analfabetismo chegou a zero (Lênin, 1980). O socialismo se acabou ali, mas a marca do analfabetismo foi embora. Em Cuba não há analfabetos. O país é pobre, mas um pobre consciente.
No Brasil, tem-se muitos miseráveis, pobres, favelados, famintos, analfabetos. Mas muitos são inconscientes de sua realidade, embora haja alguns conscientes. Por isso, os inconscientes sofrem mais do que os outros, pois acham que a culpa de sua miséria é deles mesmos. Ele, na sua santa ignorância, sente-se o senhor de seu próprio fracasso. Isso se dá o nome de alienação.
Referências
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Atlas,. 1977.
FREIRE, Paulo. Conscientização. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
LÊNIN, Vladimir I. Como iludir o povo. São Paulo: Global, 1980.
MARX, Karl. Ideologia alemã. São Paulo: Cia das Letras, 1992.
MARX, Karl. O manifesto comunista. São Paulo: Global, 1981.
MORAES, Fernando. A ilha. São Paulo: Global, 1982.

Nenhum comentário:

Postar um comentário