terça-feira, 28 de setembro de 2010

FÉ E POLÍTICA - Prof. Roberto Ribeiro - Contato: 85-9972.6634

FÉ E POLÍTICA TÊM QUE ANDAR JUNTAS
Roberto Ribeiro
Boa noite, senhores Deputados, membros do Conselho da Comunidade e integrantes de grupos e moradas. Meu nome é José Roberto Soares Ribeiro, sou Cientista Social, Sociólogo, e membro da Comunidade Recado, pertencendo ao Grupo Povo Meu.
Ao longo de minha vida como militante em política nunca encontrei nada parecido com o que presenciei e continuo presenciando aqui dentro deste local de fé cristã. No entanto, melhor esclarecendo o meu ponto de vista, devo dizer que política e fé não podem estar separadas.
Para que isto fique melhor entendido, vale ressaltar um pouco da minha história de vida na política de militância contra a ditadura militar, na década de oitenta. Logo no início dessa década, após a Anistia Ampla Geral e Irrestrita de 1978, os movimentos políticos dentro das universidade, sindicatos e partidos políticos se intensificaram contra o regime militar. O povo não mais agüentava a repressão e a “mordaça”, que punia todo aquele que se manifestasse democraticamente, era a lei do silêncio. A pessoa poderia ser presa imediatamente pelo simples fato de falar do regime militar. Havia até um programa humorístico do Jô Soares na televisão Globo, onde um personagem dizia sempre que “Eu não sei de nada, eu não vi nada”. O programa fazia críticas ao próprio regime militar que a tudo proibia e prendia.
Hoje isso pode até parecer ficção e exagero, tal o grau de liberdade de expressão que a sociedade vive na democracia. Mas naquela época a situação era bem diferente. Crítica, qualquer que fosse ao regime, aos baixos salários, ao custo de vida, às péssimas condições das escolas e das universidades públicas poderia se tornar perigosa. Evidentemente que o processo já estava em fase final, pois a anistia já permitia a vinda dos antigos exilados políticos que estavam no exterior. Pessoas já estavam saindo da prisão. Mas foi difícil a conquista da verdadeira democracia, pois os militares não queriam entregar o governo a qualquer civil. Aí é que residia o problema maior. Por isso, lutava-se pela democracia, fazia-se passeatas, comícios nas praças públicas. Greves e manifestações às mais variadas pediam eleições diretas já.
Era o ano de 1984, pois no dia 25 de março, grandes manifestações eclodiam em todo o Brasil pedindo eleições diretas, pela Emenda Dante de Oliveira. Esta emenda deveria ser votada naquela noite. Mas houve grande frustração por parte de milhões de brasileiros que se aglomeraram nas praças públicas em vigília na hora da votação. A decepção veio por conta do Congresso Nacional que rejeitou a aprovação das eleições diretas para presidente da República que deveriam ser realizadas em 1985. Naquela sombria noite fora aprovada a eleição indireta. E, em janeiro de 1985, o Congresso elegeu Tancredo Neves.
Bem, o importante disso tudo é que a luta continuou, e, em 1989, houve, de fato, as eleições presidenciais de forma direta para presidente da República, sendo vitorioso o candidato Fernando Collor de Mello. Todavia, a luta maior dos movimentos era a eleição de um candidato que tivesse raízes naqueles movimentos que lutaram contra o regime militar, pois o mesmo pertencia ao foco das lutas populares por melhores condições de vida. E isso só veio a ocorrer em um passado bem recente, em 2002.
Sem citar nomes, nem partidos e nem ideologias para não atrapalhar o raciocínio e nem caminhar para o perigoso itinerário da parcialidade, posso dizer que o fracasso daqueles movimentos em promover o bem estar social foi justamente a falta de fé, o ateísmo e o materialismo existente. Evidentemente que houve a vitória dos partidos, mas sem a presença do homem, do ser humano. Este ficou à margem do processo decisório, longe das suas reivindicações. Não havia o humanismo necessário capaz de unir os membros dos grupos que lutavam nas militâncias políticas. Havia, isto sim, uma competição desenfreada tanto dentro das universidades quanto nos sindicatos e demais associações de classes. Qualquer boato era motivo de “queimação”, pois cada um queria um espaço maior dentro dos grupos e comunidades organizadas. Sempre que um companheiro estava liderando determinado seguimento social, dentro de um grupo comunitário, surgiam logo boatos sobre a sua pessoa, difamação, calúnias, tudo com o intuito de afastá-lo. E isso era passado através de jornaizinhos, panfletos, cochichos, fuxicos, murmurações. Era a realidade da própria falsidade, da falta de respeito ao próximo, o partido estava acima do ser humano. Promovia-se até o isolamento da pessoa mesmo dentro da universidade. Quando a pessoa era queimada por determinados grupos rivais poucos se aproximavam dela. O objetivo era afastá-la da liderança, pois a comunidade passava a não mais confiar naquela pessoa. No processo de queimação dizia-se coisas sobre a pessoa que danificavam sua imagem como líder, e isto, politicamente era um desastre total.
Aí é que descobri, depois de um longo tempo que algo estava faltando ali, naquele movimento. A fé. Mas uma fé que promovesse o bem, visse no ser humano algo mais do que uma liderança, um cargo de chefe de departamento de universidade, um presidente de um sindicato de classe, um líder estudantil seja do Centro Acadêmico, do DCE ou da UNE. Sei que é difícil falar sobre fé, principalmente para mim que sempre tive a política como discussão maior em minha vida. Não tenho argumentos bíblicos para falar, não posso fazer citações dos Evangelhos, nem do Antigo e nem do Novo Testamento, pois se assim o fizesse, poderia soar mal, as pessoas devotas não entenderiam, talvez. Mas será isso fruto de minhas racionalidades dentro do mundo da Sociologia Política? Não estarei trazendo ainda dentro de mim os antigos vícios da competição, onde procurava fazer citações de Marx, Kant, Hegel, Max Weber, Émile Durkheim, Paulo Freire, Gilberto Freire e tantos outros baluartes do mundo das ciências sociais? Pode ser, mas na verdade, aqui, dentro da Comunidade Recado, no Grupo Povo Meu, procurei ver a humildade como a meta maior. Lembro de São Francisco de Assis que disse: “Quero ser o último dos últimos”. E foi assim que ele se aproximou de Deus.
Entretanto, nem por isso, a política pode ser afastada, pois ela é necessária a vida. Política se faz em tudo o que se vive. Na política se decide quase tudo a favor do homem, mas isso só se torna possível com a parceria da fé. Só com a fé em Deus, tendo-se um objetivo maior, é que se pode ver no irmão a sua imagem e semelhança. E como diriam na religião: “Como é que você diz que acredita em Deus que você não ver se você não acredita no seu irmão que você está vendo?”
Assim, que fique bem claro, tanto na política quanto na religião, tem que haver a presença de uma e de outra. Um religioso que não se informa politicamente pode estar cometendo o pecado da omissão perante milhões de irmãos que são atingidos por políticas públicas que são votadas inadequadamente. Do mesmo modo, um político que não tem fé em Deus, dificilmente ele poderá votar uma medida que beneficie o homem em detrimento do lucro que poderá obter com ela.
Enfim, religiosos e políticos devem conscientizar-se da união entre fé e política em prol de um mundo humano, e que veja nas suas decisões o amor ao próximo, sem exclusão social.

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