quinta-feira, 30 de setembro de 2010

QUESTÕES POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS: em quem devo votar?

Questões políticas: em quem devo votar?
Roberto Ribeiro – Sociólogo, Estatístico, Professor, Pesquisador. Contato: (85) 9972.6634.
Antes, quero agradecer ao meu filho Marcos Pavel, pelo incentivo ao blog, à minha filha Ana Vitória, por ter também elogiado, à minha esposa, Fátima, por achá-lo interessante. Agradeço também, de coração, à minha seguidora Gislene Oliveira, aos meus seguidores do Grupo Povo Meu, Vítor e Marcelo e aos demais membros da Comunidade Recado, tão empenhados na campanha: "Eu Acredito no Recado em Fátima", por terem lido assuntos deste blog.
Importante: Ontem à noite, quarta-feira, 29 de setembro de 2010, antes da reunião do Grupo Povo Meu, da Comunidade Católica Recado, da qual eu participo, o Vitor e o Marcelo disseram que viram o meu blog. Eles pediram algumas informações mais detalhadas sobre política, por isso, entre o debate sobre a campanha da Comunidade Recado: “Eu acredito no Recado em Fátima”, eu disse que iria escrever alguma coisa sobre o tema político atual. Logo, é interessante o artigo que escrevo abaixo. Isso poderá ajudá-lo a definir o seu voto.
Artigo
Muitas pessoas geralmente têm dúvidas na hora de votar. Isso ocorre em virtude de nossa própria formação política que é deficitária. Primeiro porque a educação da população brasileira não leva em consideração a educação política. As disciplinas ministradas nos colégios visam mais as ciências naturais e exatas como matemática, física, química e biologia. História, geografia, literatura são geralmente deixadas de lado, conhecidas como “matérias decorativas”. E esta situação é sempre reforçada pelos governos que dão grande incentivo ao mercado de trabalho, preparando sempre mão de obra especializada. Não se educa o estudante para pensar, para refletir. Nos próprios colégios, tanto públicos quanto privados, pouco se investe em bibliotecas. A relevância que se dá são às quadras de esportes. Dentro de um quadro deste tipo, fica muito difícil esperar que o eleitor saiba alguma coisa de política, pois esta deveria ser estudada para ser entendida. Todavia, não é interesse das classes dominantes que a pessoa reflita e pense coerentemente, pois esse novo paradigma iria certamente fazer com que o eleitor tomasse consciência do que faz um presidente, um governador, um prefeito e etc. Disciplinas que ensinam política se tornam perigosas para qualquer sistema político organizado por uma minoria branca. Isso vem desde os tempos do colonialismo. As coisas sempre foram feitas de forma que o povo participasse da menor forma possível. Segundo, o voto antigamente era vedado a quem não possuía renda. Só poderia votar os grandes fazendeiros, donos de casas comerciais, juízes, advogados, médicos e engenheiros. O povo ficava apenas escutando e ouvindo falar. Com a proclamação da República em 1889, a participação popular era exigida pelo mundo civilizado, pelo positivismo da Revolução Francesa. Ninguém iria emprestar dinheiro a um país, ou fazer comércio com uma nação que não dava oportunidade a seu povo de escolher os seus representantes políticos. Então, da não participação, a coisa virou justamente para a situação inversa, agora o povo era forçado, obrigado a votar. Aí surgiu a pergunta dentro do meio popular: em quem devo votar? Os grandes proprietários arranjaram logo a resposta: em nós. E por conta do voto amarrado, de cabresto, dentro dos currais eleitorais, a alienação popular foi se intensificando. E à medida que as eleições se passavam assim, dentro dos recintos das grandes propriedades, cada vez mais o povo ficava apático diante dos questionamentos políticos. Em 1934, a Constituição legalizou o voto feminino. E na Constituição de 1988, o voto ao analfabeto foi permitido. No entanto, há um fato inédito, o analfabeto pode votar, mas não pode se candidatar. Outra aberração.
Na democracia, o ideal é que haja os colégios eleitorais, onde parte significativa da população seja filiada a um partido político. Nos partidos políticos há os cursos sobre orientação política, onde se discute a economia política, o andamento da forma como a sociedade age e reage perante conquistas de seus direitos sociais. Neste ponto, há a conscientização da verdadeira vontade de participar. E é ali, dentro do partido político que os grupos de interesse vão se formando. São os grupos que lutam por melhores condições de vida, os que reivindicam direitos para a mulher, os que pedem garantias para os trabalhadores, aqueles grupos que defendem a microempresa, e daí por diante. Em face desta realidade, há as lideranças que se destacam em cada grupo, e, no processo eleitoral, há a votação para indicar candidatos. Dessa forma, dentro do partido político organizado e estruturado, com todo o processo democrático de participação, discussão e indicação para candidaturas conforme o próprio perfil elaborado pela organização partidária, a eleição dentro da sociedade é formada. E quando chega no processo eleitoral, os eleitores têm os seus candidatos, onde estes disputarão com outros de outros partidos, defendendo também seus interesses de classes.
Entretanto, no processo eleitoral brasileiro, onde não há formação política adequada, o eleitor não tem uma definição partidária, ele simplesmente não tem nenhum contato pessoal com os candidatos, a não ser perto das eleições, onde o político se aproxima do eleitor para tomar cafezinhos, entregar “santinhos”, muitas vezes com o retrato de um santo da Igreja junto com o seu, e daí por diante. Fica difícil deste jeito encontrar uma resposta para ver em quem se vai votar. Seria ideal uma adequada educação em ciências políticas em todos os setores da sociedade brasileira, onde a participação popular fosse bem representativa, pois as discussões sobre os reais problemas sociais, com debates constantes, é que fazem a democracia. Mas da forma como está, o que se vê são pessoas sem a menor condição de reivindicar direitos sociais se candidatarem, onde há muitos candidatos que prometem projetos que não são de sua competência, caso sejam eleitos. Há alguns vereadores que prometem votar leis que seriam de atribuição de deputados federais, candidatos a prefeito que prometem acabar com a violência urbana, assunto da competência do governador, pois a prefeitura não tem o poder de polícia, ela não possui aparelhos repressivos, já que ela não controla as polícias militares estaduais. Quer dizer, são coisas desse tipo que fazem parte de uma democracia que funciona de forma inadequada. Assim, saber em quem vai votar vira quase que uma adivinhação, um jogo de loteria, um acaso, uma sorte, uma probabilidade de erros e acertos. Em vista disso, perdidos e sem terem um roteiro adequado nas eleições, o eleitor acaba votando no candidato que melhor aparece nas pesquisas eleitorais.
As pesquisas eleitorais são encomendadas pelas organizações fortes que têm grandes interesses em que seus direitos e seus privilégios sejam mantidos. Em visto disso, estas empresas encomendam pesquisas junto aos institutos especializados em opinião pública. Evidentemente, em virtude da metodologia adotada pelos técnicos em pesquisas dos institutos, o resultado acaba favorecendo o candidato que responde aos interesses dos poderosos, das classes dominantes, ou seja, daqueles que detêm há mais de quinhentos anos o poder econômico do Brasil. Pois a instituição pesquisadora procura responder aos interesses daqueles que encomendaram a investigação do processo eleitoral. Assim, quando sai o resultado, fortemente noticiado pela imprensa, o eleitor, já sem nenhuma informação sobre seus reais direitos e necessidades, acaba sendo influenciado pelos índices estatísticos percentuais fornecidos. E é neste contexto que ocorrem as maiores disparidades. Você ver um trabalhador explorado da construção civil estampar uma blusa com a foto de um banqueiro, um desempregado votar em um candidato que defende os interesses neoliberais. Sabe-se que o neoliberalismo defende o desemprego como uma forma de manter uma mão de obra reserva, o exército industrial de reserva. Quanto maior for a mão de obra excedente, mais os salários serão pressionados para baixo, pois o trabalhador exerce a sua atividade com medo de perder o emprego para um companheiro que todos os dias pede emprego na fábrica a qual ele trabalha. Esta é a regra mostrada pela economia liberal, passando por David Ricardo, Adam Smith, Karl Marx e demais economistas contemporâneos em estudos de economia política. Só existe lucro quando os salários estão mais baixos. Daí o processo de acumulação do capital, gerando riqueza de uma minoria com má distribuição de renda para a maioria das classes populares, inclusive a classe média, tão abatida atualmente com as políticas governamentais.
É bom entender que a sociedade capitalista funciona através de duas classes fundamentais: patrões e empregados, proletários e burgueses. Sempre foi assim, e o que não se admite é uma pessoa deixar de compreender esse fundamento sociológico, pois em qualquer curso de Introdução à Sociologia este tema é abordado. Independente de haver lutas socialistas ou não, o que interessa conhecer é o funcionamento da sociedade, da forma como as engrenagens se locomovem e fazem a economia andar. O homem vive inserido nos processos sociais, onde há a competição, os conflitos e as acomodações, não se podendo ignorar a estratificação social, e a própria luta de classes, inerentes ao funcionamento do sistema. Ao tomar consciência disso, chamada pelo educador Paulo Freyre, de conscientização, a pessoa passa a melhor entender o seu lugar social, a sua posição dentro do processo social. Por isso, quanto maior for o grau de conscientização e conseqüente participação popular, melhor será para todos, pois aí haverá um maior equilíbrio dentro das conjunturas do tecido social. Se o funcionário, empregado, trabalhador, pequeno empresário, mulher, doméstica, profissional liberal e demais classes que vivem de salários tomarem consciência de que do outro lado há os grandes proprietários, os grandes banqueiros e demais entidades opressoras, as coisas passarão a ser mais democráticas. As injustiças sociais diminuirão, haverá menor violência urbana, a educação pública e a saúde serão melhor assistidas, haverá redução da quantidade de moradores de rua, os sem teto e os sem terras também diminuirão em tamanho, pois casas reivindicadas serão construídas. Além disso, os preconceitos também perderão em grau de intensidade, pois a representatividade dentro dos modelos políticos serão maiores. Um novo paradigma político surgirá de forma consciente, a paisagem estampada nos congressos políticos terá uma estratificação social com representantes de diversas entidades.
Por isso, sem querer esgotar o assunto até aqui, recomendo que o eleitor pense bem na hora de votar, veja se o candidato que está anotado na sua agenda responde aos seus reais interesses de classes. Se, por exemplo, você é um professor, veja se o seu candidato defende os interesses de uma educação de qualidade, se você é um médico, observe os problemas atuais da saúde pública brasileira, veja quem votou no Congresso Nacional contra a CPMF, pois a exclusão deste imposto democrático prejudicou a saúde pública brasileira em mais de quarenta bilhões. Os partidos que votaram contra a CPMF queriam simplesmente prejudicar o partido que estava no poder naquela ocasião. Seria a hora de você, eleitor, ver pela internet, quais os candidatos aqui do Estado do Ceará que votaram contra a Contribuição por Movimentação Financeira (CPMF).
Bem, agora é tomar consciência e votar em um candidato que tenha a ver com os seus reais interesses sociais. Verificar, especificamente se os clamores ao qual você participa têm correspondência com as reivindicações propostas pelo candidato ao qual você escolheu para votar. Lembre-se, como depois das eleições não há quase cobrança do eleitor, seu candidato poderá ou cumprir a promessa ou esquecê-la, tudo dependerá da sua consciência e dos interesses aos quais ele representa. Por isso, nós, cristãos, que acompanhamos as adorações aos Santíssimo, participamos de grupos de oração, não podemos nos deixar enganar. Temos que ser tão espertos quanto os filhos do mundo, como diz Jesus em uma de suas parábolas na Bíblia Sagrada: “Os filhos de Deus deveriam ser tão espertos quanto os filhos do mundo”. Ele faz esta afirmação na parábola do administrador que perdoara as dívidas dos devedores de seu patrão, pois ele iria ser demitido. Dessa forma, por exemplo, no caso da questão do aborto, só para alertar, não se deixe levar pelo candidato que diz apenas que é contra o aborto. Isso é muito fácil dizer quando se está nas vésperas das eleições. Este tipo de candidato muitas vezes pertence a um partido que defende claramente o aborto. Lembro que em 2009, quando levantaram a questão do aborto, os principais senadores do Congresso Nacional defenderam publicamente o aborto, dizendo que aquilo era uma “questão de saúde publica”. No entanto, hoje, próximo às eleições, estes mesmos senadores se escondem do problema. Lembre-se, caro eleitor e leitor deste blog, os filhos de Deus são bem mais inteligentes. Veja o que o candidato tem de sincero em suas manifestações, procure olhar bem em seus olhos, nas suas palavras, embora você não tenha grandes conhecimentos em ciências políticas, você, independente de ter religião ou não, mas se for uma pessoa que deseja o bem ao próximo, tenho certeza que saberá escolher a opção que melhor lhe convier no dia das eleições. Além do mais, se nenhum corresponder aos seus ideais éticos, você tem a opção de votar nulo ou branco.

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